A hiperprolactinemia é uma anomalia causada pela produção elevada de prolactina, conhecida também como hormônio do leite. A prolactina é produzida pela hipófise, uma glândula localizada na parte inferior do cérebro, que eleva a produção fisiológica do hormônio durante o período gestacional e pós-parto. Outras causas fisiológicas são exercício, stress e manipulação das mamas. A causa não fisiológica mais comum é o uso de medicação (antidepressivos, anti-psicóticos, anti-hipertensivos, anticoncepcionais). Ela representa o distúrbio endócrino mais comum do eixo hipotálamo-hipófise e pode ter várias causas endócrinas como hipotireoidismo primário, síndrome dos ovários policísticos e insuficiência adrenal. Um prolactinoma (adenoma hipofisário produtor de prolactina) é a causa mais comum de hiperprolactinemia crônica, uma vez foram descartadas as causas acima. Os prolactinomas são os tumores hipofisários secretores de hormônios mais comuns, sendo responsáveis por aproximadamente 40% de todos os tumores hipofisários.
Os sinais e sintomas mais característicos encontrados em pacientes com hiperprolactinemia são aqueles relacionados ciclos irregulares, amenorreia, disfunção sexual, infertilidade e galactorreia (saída de leite das mamas não relacionada a gestação). Em pacientes com macroadenomas (tumores hipofisários maiores que 1,0 cm) podem apresentar também cefaléia e distúrbios visuais. Galactorréia idiopática (níveis de prolactina normais e ciclos regulares) esta presente em até 40-50% de todas as mulheres com galactorreia não puerperal. Em contraste, o achado de galactorréia em homens é altamente sugestivo de um prolactinoma. Existe a possibilidade de ocorrer a hiperprolactinemia sem sinais ou sintomas. Neste caso é importante investigar a presença da macroprolactina, que é uma isoforma da prolactina sem função endócrina.
Para a correta identificação da causa da hiperprolactinemia, alguns parâmetros devem ser avaliados: história médica, exame físico, características clínicas, achados laboratoriais e estudos de imagem da hipófise e sela túrcica. Além da determinação de PRL, todos os basais hormonais hipofisário e os níveis de creatinina devem ser obtidos para descartar descobrir causas secundárias de hiperprolactinemia. Finalmente, a dosagem de β-hCG é obrigatória em qualquer mulher em idade fértil com amenorréia. É fundamental excluir causa medicamentosa.
O tratamento ideal da hiperprolactinemia depende de sua causa e pode incluir, por exemplo, reposição de levotiroxina em pacientes com hipotireoidismo primário, agonistas da dopamina (DAs) para prolactinomas e suspensão de medicamentos em casos de hiperprolactinemia induzida por drogas. Por outro lado, a macroprolactinemia não precisa ser tratada. Opções terapêuticas atualmente disponíveis para prolactinomas incluem uso de agonistas da dopamina(DAs), Bromocripitina e Cabergolina, cirurgia e radiação hipofisária. DAs são o tratamento padrão ouro para prolactinomas, pois seu uso controla hormônio secreção e crescimento tumoral em aproximadamente 80% de casos. A cirurgia só é indicada nos casos de tumores muito grandes que causem complicações visuais ou compressivas agudas importantes e nos casos em que o tumor não responde as DA.
Com a melhora da hiperprolactinemia os ciclos menstruais e a fertilidade são retomados aumentando a chance de gravidez. A DA deve ser retirada assim que gravidez é confirmada em pacientes com microadenomas ou macroadenomas intraselares. No caso dos macroadenomas é fundamental aguardar a redução do volume tumoral antes de liberar a gestação. Em casos de tumores previamente expansivos ou invasivos, a Bromocriptina (BRC) pode ser reintroduzida ou mantida na gravidez ou cirurgia citorredução é indicada antes da gestação. Durante a gestação o acompanhamento dos pacientes com microprolactinomas ou macroprolactinomas intraselares devem ser feito a cada trimestre, com atenção à sisntomas de dor de cabeça e deficiência visual. Na presença destas queixas, a ressonância magnética selar sem contraste deve ser solicitada, de preferência após o primeiro trimestre e a reintrodução de BRC é indicada se o crescimento do tumor for relacionado aos achados clínicos. A amamentação não é contra-indicada na maioria dos casos.