Diabetes mellitus gestacional (DMG) é definida pela OMS como intolerância aos carboidratos diagnósticada pela primeira vez durante a gestação, que não preenche os critérios diagnósticos de DM antes da gestação e que pode ou não persistir após o parto. Pode ser também a primeira manifestação de uma Diabetes Mellitus (DM) prévio não diagnosticado. É a doença metabólica mais frequente da gestação e esta presente em 1 a cada 7 gestantes.
DMG não tratada tem risco materno maior de ter ruptura da bolsa amniótica antes do parto em de 10 vezes, parto prematuro em 6 vezes, feto com apresentação pélvica em 3 vezes e de ter pré-eclâmpsia em 2 vezes. Com relação ao feto, o risco de ter um bebe grande para idade gestacional é 2 vezes maior, além de também apresentar maior risco para síndrome de angústia respiratória, cardiomiopatia, icterícia, hipoglicemia, hipocalcemia, hipomagnesemia , policitemia com hiperviscosidade sangüínea e a longo prazo, aumento do risco de obesidade e DM2. Os riscos maternos, fetais e neonatais são maiores quanto mais elevada a glicemia maternal.
Existem fatores de risco que aumentam as chances de ter diabetes na gestação como estar acima do peso, ser portadora de Síndrome dos ovários policísticos, resistência insulínica, histórico familiar ou pessoal de alteração glicêmica prévia, hipertensão aterial, idade materna avançada, colesterol ou triglicerídeos altos entre outros. Porém independente da presença dos fatores de risco, todas as gestantes devem ser avaliadas desde a primeira consulta pré-natal ao menos com a dosagem de glicemia de jejum. Se a glicemia estiver igual ou maior que 92 mg/dl é aconselhável repetir a dosagem da glicemia e na presença de um segundo valor alterado o diagnóstico de diabetes na gestação é confirmado. Caso a glicemia inicial estiver normal, a gestante deve ser testada novamente entre a 24-28 semana com a realização de uma curva glicêmica de 75g com dosagem de glicose em jejum, 1h e 2hs após ingesta de açúcar. Na presença de um valor acima do desejável o diagnóstico de Diabetes na gestação é confirmado.
O tratamento inicial do diabetes diagnosticado na gestação é a dieta. Deve-se orientar um restrição de carboidratos. Os carboidratos simples, como as farinhas brancas devem ser substituídos pelos alimentos integrais. O consumo de açúcar deve ser evitado ao máximo e os alimentos podem ser adoçados com edulcorantes como sucralose ou estevia. A dieta deve ter mais proteínas e fibras. A maioria consegue atingir o controle glicêmico adequado apenas com a dieta, porém cerca de 10-20% necessitam de insulina para ajudar no controle glicêmico.
A glicemia deve ser monitorada ao menos 4x ao dia com uso de glicosímetro calibrado e os valores glicêmicos devem ser mantidos dentro dos objetivos específicos da gestação para evitar as complicações.
A maioria das pacientes volta a ter níveis glicêmicos normais após o parto, porém todas devem repetir a curva glicêmica cerca de 2 meses após o parto para serem reavaliadas em relação ao metabolismo glicêmico. Algumas pacientes podem permanecer diabéticas, pré-diabetes ou com resistência insulínica e devem receber tratamento e acompanhamento nutricional. Ao longos dos anos existe um risco maior de pacientes que tiveram diabetes na gestação de desenvolver DM fora da gestação e mesmo que a curva glicêmica após o parto esteja normal, as pacientes devem ser acompanhadas anualmente com glicemia de jejum e HbA1C, além de serem orientadas a manter dieta e peso adequados e a praticar atividades físicas. Nas próximas gestações o risco de voltar a ter diabetes é de ano menos 50%.