A hipertrigliceridemia é um dos tipos de distúrbio do metabolismo dos lipídeos. Dependendo do ponto de corte utilizado, pode estar presente em até 33% dos adultos. As principais consequências da hipertrigliceridemia são a ocorrência de pancreatite e aumento de risco cardiovascular.
Os valores desejáveis de triglicérides são abaixo de 150 mg/dL; limítrofes, entre 151- 199 mg/dL; elevados, entre 200- 499 mg/ dL; e muito elevados, acima de 500 mg/ dL. Apesar de poder-se utilizar dosagens de triglicerídeos sem jejum para rastreio e avaliação inicial, para tomada de decisão terapêutica, deve-se ter pelo menos 2 dosagens de triglicerídeos com jejum adequado e com 2 semanas de intervalo.
As HTG classificam-se em primárias (genéticas) ou secundárias a condições metabólicas. Na maioria dos pacientes, há uma combinação entre predisposição genética (geralmente poligênica) e fatores ambientais (alimentação, estilo de vida, uso de medicamentos, comorbidades) para o desenvolvimento da hipertrigliceridemia.
As principais causas secundárias de hipertrigliceridemia são: obesidade, diabetes mellitus, abuso de álcool, inatividade física, doença renal, gestação, hipotireoidismo, esteatose hepática, doenças auto-imunes e/ou uso de determinados medicamentos (corticosteróides, estrógenos, tamoxifeno, diuréticos tiazídicos, bloqueadores beta-adrenérgicos, sequestrantes de ácidos biliares, isotretinoína, ciclofosfamida, fenotiazinas, olanzapina, clozapina, e anti- retrovirais).
Sinais clínicos de hipertrigliceridemias incluem xantomas eruptivos, lipemia retinalis, hepatoesplenomegalia, sintomas neurológicos focais, dor epigástrica recorrente e pancreatite.
A avaliação com exames complementares deve seguir os sinais e sintomas identificados na avaliação clínica, apesar disso, a maioria dos pacientes terá indicação de realizar dosagem de glicemia (ou HbA1c), creatinina, TSH, enzimas hepáticas e exame comum de urina.
A intervenção em hábitos de vida e o tratamento de causas secundárias são as principais intervenções para tratamento de hipertrigliceridemia. Esta estratégia representa as principais medidas terapêuticas. Em muitos casos, se revela suficiente para um controle adequado dos triglicerídeos.
Do ponto de vista alimentar, dieta rica em carboidratos parece ter papel central, uma vez que eles são substrato para a síntese de ácidos graxos no fígado que serão posteriormente transformados em triglicerídeos . Este é agravado quando há resistência a insulina, como ocorre em pacientes com diabetes mellitus. Deve-se lembrar também do papel central do álcool na hipertrigliceridemia; deve-se reduzir e, se triglicerídeos ≥500 mg/dL, suspender completamente o consumo.
Existe grande heterogeneidade na resposta de cada indivíduo, mas os impactos dessas medidas na hipertrigliceridemia pode ser grande: perda ponderal e ajustes na dieta podem levar a redução de até 70% dos triglicerídeos e atividades físicas chegam a reduzí-los em 30%.
Quando as medidas de estilo de vida isoladamente não são suficientes, deve-se partir para o tratamento farmacológico. Nesses casos, o conceito central é atentar ao objetivo terapêutico. Para o objetivo de redução do risco de pancreatite, o alvo deve ser controle dos níveis de triglicerídeos; por outro lado, para redução do risco cardiovascular, os triglicerídeos devem ser considerados como marcador de risco, e a abordagem é mais focada no uso de estatinas.
Os principais medicamentos para controle dos triglicerídeos são fibratos, ômega-3 (um tipo de ácidos graxos poliinsaturado) e estatinas.